Broom Service: use magia, estratégia e empatia para entregar poções
Em uma partida do Broom Service, publicado no Brasil pela
Grow Jogos e Brinquedos, o jogador assume o papel de uma trupe de personagens
fantásticos com a missão de conquistar o maior número de pontos heroicos ao
produzir e entregar poções mágicas assim como afastar nuvens que atrapalham voos
com vassouras.
Nesta competição para dois a cinco jogadores a partir de 10
anos (nota: os sites dizem dez anos, mas a caixa diz 14 anos, mas uma criança
de nove anos consegue jogar tranquila), as peças que representam a posição dos
personagens no tabuleiro – que lembra uma bruxa – assim como os marcadores e
poções mágicas são feitas em madeira, o que é um belo toque. As poções são das
cores roxa, laranja e verde e somente um tipo pode ser entregue para cada
cliente, representado no tabuleiro por uma torre com um telhadinho da mesma cor
da poção mágica desejada. Cada torre traz consigo um número que representa os
pontos heroicos que o jogador fatura ao conseguir entregar a poção, colocando-a
sobre a torre e deixando claro que ninguém mais poderá entregar no mesmo lugar.
Telepatia, olhar de raio-x e técnicas de divinação – com o apoio
de uma bola de cristal – seriam formas excelentes para saber das intenções dos
demais jogadores e facilitar a vida sua na escolha das cartas. Contudo, você
não precisa desses poderes para aproveitar os ventos certos e fazer entregas de
sucesso.
Com uma arte que encanta e um dinâmica bem especial, este incrível
jogo faturou o prêmio Kennerspiel de Jahres em 2015, uma premiação alemã que
faz parte do Spiel des Jahres. Nota: o Kennerspiel é um importante
reconhecimento para títulos direcionados aos jogadores que já têm alguma experiência
com jogos de tabuleiro e buscam um desafio novo, incomum. Para quem é novo para
o título, uma partida de sete rodadas pode durar 1h30m, mas para quem já é
experiente, termina-se em 1h00.
Entenda como jogar: o feitiço certo para cada cliente
O tabuleiro e as peças são muito bem acabadas. |
As torres com telhados quadrados aceitam entregas infinitas,
mas pontuam menos do que as com telhado redondo próximas. Assim, o jogador tira
uma poção de seu estoque e coloca direto no estoque geral (que seria o “banco”
do bom e velho Banco Imobiliário) e ganha os pontinhos correspondentes, marcando-os
na borda do tabuleiro, de 0 a 99.
Como você já deve ter percebido, o jogo é uma espécie de
corrida contra os demais participantes, pois na busca pelas maiores pontuações,
os jogadores saem voando baixo feito motoboys que entregam quentinhas na hora
do almoço. Contudo, não se trata de um jogo de percurso convencional, tipo
ludo... Longe disso.
O equilíbrio no uso das cartas
Para balancear a evolução na partida, os jogadores baixam
cartas de sua mão para realizar ações com seus peões no tabuleiro:
- Movimentar-se: as cartas de bruxas movem o peão do território onde estiver para o terreno vizinho. Há uma carta de bruxa para cada tipo de terreno no jogo – floresta, montanha, campo e colina;
- Entregar poções: as cartas de druidas entregam poções para o território onde o peão estiver. Um druida consegue entregar na montanha e na colina ao passo que o outro faz delivery nas florestas e nos campos;
- Produzir recursos: há três tipos de personagens coletores que são responsáveis por criar as poções mágicas e varinhas de condão;
- Remover nuvens: a Fada do Clima é uma carta que remove uma nuvem em território vizinho ao peão do jogador, desde que consiga entregar a quantidade de varinhas necessárias para remover a nuvem. Nenhum peão pode mover-se para um território com nuvem (e elas rendem pontos de bônus no fim da partida).
É preciso buscar uma mão equilibrada para produzir, entregar, mover-se e dissipar nuvens. Ufa! |
A maneira como imaginaram o descarte foi bem, bem curiosa.
Se lhe parecer complicado em um primeiro momento, relaxe, pois é mesmo, mas
você aprende rápido e perceberá que faz bastante sentido para a evolução do
jogo.
Cada participante tem o mesmo baralho de 10 cartas com os
personagens explicados acima, mas a cada rodada, só se pode escolher 4 para
seguir adiante. As demais cartas ficam fechadas na frente de cada jogador.
No começo da rodada, o primeiro jogador escolhe qual carta
usará e diz em voz alta que personagem e que tipo de ação realizará: corajosa
ou covarde (a carta detalha bem o que é esta ação e o que o jogador conquistará
se concluí-la). O jogador à direita confere suas quatro cartas e desce a mesma
carta, caso a tenha, e escolhe a ação covarde ou corajosa. Se não tiver a mesma
carta, diz “passo”. Segue o mesmo sentido até o último jogador da mesa.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Será?
A ação corajosa é uma decisão arriscada que será anulada por
qualquer jogador que descarte a carta na mesma rodada e escolha a ação corajosa.
A ação corajosa que coça a ganância dos jogadores e, se concluída, sempre traz
muito mais ganhos do que a ação covarde. A bruxa com uma ação corajosa, por
exemplo, move-se para o território vizinho e realiza uma entrega, o que garante
pontos ao dono do peão. Da mesma maneira, coletores produzem mais poções e varinhas;
druidas ganham pontos extras ao fazer entregas; e a fada também turbina a
pontuação ao remover nuvens.
Quando um jogador escolhe uma ação corajosa terá de esperar
até o fim da rodada para saber se alguém descartará a mesma carta que ele e
escolherá a ação corajosa. Se ninguém fizer isso, então ele poderá realizar a
ação descrita na carta e a próxima rodada começará com ele mesmo. Se alguém
escolher a ação corajosa depois dele, ele terá descartado a carta, mas não terá
nenhum efeito, fora deixá-lo frustrado. O último jogador que escolheu a ação
corajosa é quem poderá realizá-la e começará a próxima rodada.
Por outro lado, a ação covarde é sempre garantida e realizada
na vez em que o jogador desce a carta. Uma Fada do Clima com ação covarde irá automaticamente
remover a nuvem que impede as bruxas de se moverem para um determinado terreno.
O druida com a ação covarde automaticamente entregará a poção e o jogador
embolsará os pontos no mesmo instante.
Dicas para jogar sem precisar da bola de cristal
As nuvens mudam de lugar de uma partida para outra. |
- Empatia, compreender o outro, é a magia para antecipar movimentos e, assim, saber quando tomar uma ação covarde ou corajosa ou que cartas escolher no começo da rodada. Observar o estoque dos jogadores, que fica sempre em cima da mesa, e onde estão os peões no tabuleiro já servem dão uma bela pista sobre o que os jogadores possivelmente farão. Exemplo: se o peão amarelo está em uma montanha com uma torre de telhado roxo com boa pontuação, mas o jogador não tem poção roxa, é bem provável que ele escolha um druida para entregar na montanha e o coletor para fazer a poção roxa. Sabendo disso, você jogaria essas mesmas cartas com a ação corajosa antes da vez deste jogador? Eu não apostaria meu chapéu de bruxo nisto;
- Tenha um plano, mas improvise. Saiba bem aonde gostaria de chegar e o que gostaria de fazer não só na rodada atual, mas nas rodadas seguintes. Agora, prepare-se porque você não conseguirá fazer exatamente o que desejava, pois as escolhas dos outros irão te atrapalhar. Como? Simples: os descartes dos outros jogadores forçarão você a realizar ações em uma ordem que não era exatamente o que você queria. É bem possível que, uma vez ou duas na partida, você queime uma carta e não possa fazer absolutamente nada com ela – não há uma poção para entregar com aquela carta de druida que você foi obrigado a baixar, ou não tem nenhuma montanha para qual você queira levar seu peão no momento. Não é à toa que cada jogador controla dois peões da mesma cor no tabuleiro, representando duas equipes para entregar as poções por aí. Por isso, o plano perfeito pode tomar um outro rumo com a equipe de apoio para salvar o futuro de sua empreitada;
- Preste atenção nas nuvens logo no começo. Na fase de preparação do jogo, as nuvens são distribuídas em diversas posições do tabuleiro. Algumas vezes ficam sobre lagos, por onde as bruxas não sobrevoam nem fazem entregas, e em outras vezes estão sobre territórios, bloqueando a entrada. Dissipar certas nuvens pode exigir menos varinhas do que outras e outras nuvens, mesmo que mais custosas para remover, podem valer a pena por estarem ou em um território muito importante ou em um caminho relevante para você. Só não vá remover nuvem para o adversário fazer a entrega feliz em seu lugar;
- Use os cartões de guia de jogo e da rodada. Estes pequenos cartões resumem toda a mecânica do jogo em passos rápidos. São os melhores amigos de iniciantes na arte da magia;
- Jogue para desenvolver seu grupo de personagens e não para atrapalhar a concorrência. As cartas são muito valiosas na partida para desperdiçar um descarte unicamente para atrapalhar a concorrência. Se não trouxer pontos para você no curto prazo ou não contribuir para uma estratégia mais ampla na partida, não faça.
O que me encanta neste jogo de tabuleiro
- Muitos elementos - como um todo, o jogo é bem diferente, contando com cartas, peças para mover, um tabuleiro com dois mapas e uma corrida para pontuar mais antes dos colegas. E tudo é muito integrado e usado na partida. As cartas, por exemplo, não servem de apoio unicamente para trocar por peças, como no querido War. A maneira como o Broom Service combina tudo tão bem lembra até o Catan, mas, colega, neste jogo temos um mapa bem, bem mais vasto e legal;
- Girl power – os personagens femininos têm papel essencial na narrativa do jogo, já que, sem elas, ninguém conseguiria sair do lugar. Esse cuidado atrai meninas e mulheres para a jogatina também;
- Arte bem resolvida – cartas têm a mesma cor dos territórios que representam. Por exemplo, a carta da Bruxa da Colina é bem marrom no seu visual, que é a mesma cor do território no tabuleiro, e o Coletor de Frutas, quase toda roxa, mesma cor da poção que mais produz. A base das torres é o que determina o território (ou territórios) onde a entrega poderá ser feita. Não se assuste se as crianças pedirem para jogar este título contigo;
- Manual detalhado, bem redigido e revisado. Não, não achei um erro de português sequer e todas as etapas do jogo estão lá;
- Bom acabamento da versão nacional – caixa, tabuleiro, cartas e pecinhas são bem bacanas – afinal crianças curtem manipular também o que não é de plástico;
- Um novo tabuleiro a cada partida – como nuvens mudam de posição a cada partida, os jogadores precisam revisar seus planos de voo e de entregas para fazer aquilo que trará mais pontos heroicos. Regras de variantes e nuvens especiais trazem outros desafios para a partida, exigindo que os jogadores repensem se vale mesmo a pena refazer o mesmo destino da competição anterior.
Onde há espaço para melhorar em uma edição futura
- Textos e tabuleiro maiores – jogos de tabuleiro aproximam gerações, mas este tende a exigir um esforço extra de quem já tem a vista um pouco cansada. No caso das cartas, com a experiência no jogo, já se entende do que se trata e que ação tomar. No caso do tabuleiro, ajudaria muito se ele tivesse uma dimensão maior para ser mais convidativo aos idosos. Aliás, isso é curioso: a caixa é maior que o tabuleiro que acompanha o título. Parece até que talvez desejassem fazer um tabuleiro maior, mas depois mudaram de ideia;
- Duração da partida com iniciantes – como ocorreu comigo, juntar um monte de gente que nunca viu o jogo e começar a brincar foi um feitiço que poderia ter dado muito errado. A maneira como conseguimos seguir adiante foi excluir alguns grupos de regras até ficarmos mais confiantes e jogar uma partida com todas as regras básicas. Assim, não se sinta mal em ignorar os personagens enfeitiçados – que geram penalidades ao usar – assim como as cartas de eventos, usadas uma a cada rodada e trazendo novos elementos para a rodada. Considere isso como parte da aprendizagem e siga com as entregas!
Então, gasto minhas moedas de ouro para comprar este jogo?
Sim! Broom Service vale cada centavo. Se por um lado ele
exige um pouco de quem fica ao lado dele para decifrá-lo, por outro ele traz
características tão únicas e envolve as pessoas de tal forma que justifica para
caramba a compra. Bom divertimento com seu delivery!
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